Dando continuidade ao nosso artigo de ontem sobre o cansaço nos atletas, vamos falar sobre a Síndrome de Overtraining. Trata-se de uma causa comum de fadiga persistente no atleta e pode ter consequências desastrosas para sua carreira.
Primeiramente é importante esclarecer exatamente o significado dos termos.
Termos como “Overtraining”, “Sindrome de Overtraining”, “Overreaching”, “Burnout” vem sendo usados com o mesmo significado e merecem ser esclarecidos.
“Overtraining” é o processo de treinamento excessivo do atleta de alta performance que pode levar a fadiga persistente, queda de rendimento, mudanças neuroendócrinas, alterações no estado de humor e doenças frequentes, especialmente infecções do trato respiratório superior.
“Sindrome de Overtraining” é uma desordem neuroendócrina resultante do processo de overtraining e reflexo do cansaço acumulado durante o período de treino em excesso e recuperação inadequada.
O termo “Overreaching” descreve sintomas semelhantes ( fadiga, queda de rendimento, mudanças no humor ) porem de natureza mais transitória. Alem dos sintomas serem resolvidos com períodos curtos de descanso ou recuperação. Em média, 2 semanas de descanso em comparação ao Overtraining que necessita de meses ou até mesmo anos para resolução do quadro.
“Burnout” é outro termo utilizado para overtraining.
Como se desenvolve a Síndrome de Overtraining
Overreaching é comumente utilizado por treinadores e atletas durante um ciclo de treinos típicos para melhora de performance. Treinos intensos, em um período curto de tempo, geram um declínio no rendimento. Entretanto, quando incorporado com período de recuperação adequado, ocorre o efeito de “supercompensação”. Assim, o atleta adquire um melhor desempenho em comparação aos seus níveis basais.
A Síndrome de Overtraining se desenvolve quando ocorre uma falha nesta adaptação à sobrecarga de treino realizada devido a uma regeneração muscular e bioquímica inadequada, não apresentando a supercompensação esperada e consequentemente não apresentando resultados melhores.
Infelizmente, alguns atletas reagem a esta queda de performance incrementando ainda mais as cargas e volumes ao treinamento, dando inicio a um ciclo vicioso que resulta na síndrome.
Algumas variáveis fisiológicas usadas como indicadores de Síndrome de Overtraining:
– Manutenção da queda de rendimento mesmo com treinamento contínuo;
– Queda de economia de esforço ou diminuição do ritmo de trabalho no limiar de lactato;
-Fadiga persistente;
– Alterações cardiovasculares, como aumento da frequência cardíaca pela manhã ou elevação dos níveis pressóricos;
– Alterações hematológicas, como diminuição das concentrações séricas de ferritina;
– Mudanças hormonais, como queda da produção de catecolaminas ou alteração na relação testosterona livre e cortisol;
– Perda de massa muscular ou dor muscular persistente
Variáveis comportamentais e psicológicas frequentemente estão associadas:
-Apatia, falta de motivação;
-Perda de apetite;
-Distúrbios de sono;
-Auto-relato de altos níveis de stress;
-Irritabilidade ou depressão
Quando detectado que o atleta se encontra em Overtraining é indicado repouso absoluto aconselhando-se dormir o máximo possível nas próximas 48 horas. Podendo ser realizado em um final de semana completo. Se os sintomas não forem severos, esta atitude pode ser suficiente.
Se este período não for suficiente para reduzir a fadiga do atleta, instala-se a Síndrome de Overtraining. Isto pode necessitar semanas ou meses de descanso para desaparecer. Associa-se ao tratamento atenção à dieta e suporte psicológico.
Em resumo
Cansaço excessivo é um problema comum em atletas durante períodos de treinamento duro.
Enquanto overtraining, infecção viral ou deficiência nutricional (especialmente deficiência de Ferro ) são as causas mais prováveis. Mas outros fatores também devem serem considerados. Uma historia clínica minuciosa com diário de treino e de alimentação, avaliação psicológica, e exames complementares auxiliam a chegar ao diagnóstico correto.
Dr. Bruno Borges Hernandes ( CRM 134091 )
Médico do Esporte e do Exercício pelo Hospital das Clínicas da FMUSP.
Pós-graduado em Fisiologia do Exercício e Análise da Biomecânica do Gesto Esportivo pelo HC-FMUSP.
brunohernandes@yahoo.com.b
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